sexta-feira, 28 de junho de 2013

Estou aqui sentada esperando a próxima vítima..... Distraio-me a olhar a paisagem... procuro por algo novo... não há nada de novo neste mundo.

É um círculo... tudo absolutamente tudo... é o mais completo tédio.

Sabe que eu acho que na verdade não era para eu existir.... Não existir no sentido de quem tem vida... existir no sentido de acontecer pra quem tem vida.

As pessoas... vou me referir especialmente a elas.... até porque a morte de um animal (vamos chamar de irracional, na falta de uma palavra mais apropriada) ou de um vegetal é diferente da morte de uma pessoa, de gente, de um ser humano.

Eu não existia... até que um idiota resolveu ficar com raiva, inveja... sei lá o que de outro ser igual a ele. Daí o idiota socou, socou, socou o outro e eu aconteci - pela primeira vez....

Depois desse dia tão distante não parei mais de acontecer... agora aqui pensando... acho que eu tive um pai... sem mãe...

só um pai.... estranho isso...

sábado, 15 de junho de 2013

O primeiro sintoma de que alguma coisa não ia bem apareceu na sexta-feira à noitinha quando Josiane subia a ladeira íngreme para chegar em casa.

Havia trabalhado o dia todo. Sextas-feiras era exatamente assim: muito trabalho. O apartamento de Joel era enorme e ele não era nadinha cuidadoso.... era mesmo muito relaxado.

A louça se acumulava em cima da pia, na máquina de lavar, em cima da mesa.... copos na sala, no quarto.

A roupa então... nem se fala esparramada pela casa toda.

Josiane começava a faxina cedo, bem cedo. Já fazia cinco anos que faxinava a casa de Joel. Já havia tido oportunidade de trocar por outro apartamento, mais perto de casa, menor... talvez até menos bagunçado.

Mas gostava de Joel. Pagava certinho e tudo o que não queria mais dava para ela. Era assim que não precisava comprar camisas para seu marido, roupas de cama... banho.

E Joel também ajudava muito com medicamentos para seu filhinho - de uma gripe qualquer até à internação por sérios problemas respiratórios. Joel cuidara de tudo no hospital onde trabalhava: até internar o pequeno Luca pelo SUS.

Josiane sentiu um calafrio. A luminosidade do sol era pouca... mas dava para perceber o movimento de pessoas em frente à sua casa - a última da rua estreita e sem saída.

Queria correr, mas não conseguia... suas pernas não lhe obedeciam. Não tinha medo de morrer, não temia se despedir da vida, mas... 'não meu filho', pensou!

Não é a primeira nem a última história de mãe que sente que levei seu filho... ela sabia sem nem mesmo saber... eu havia passado em sua casa naquele fim de tarde.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Ana Maria... Aninha. Lindos cachinhos dourados, olhos azuis da cor do mar de um céu sem nuvens.

Aninha - hiperativa. Diagnosticada pelo psicólogo. Aninha - distraída como ela só. Serelepe - como a maioria das crianças é.

Ana Luíza, mãe de Aninha. Preocupada, sempre atenta aos passos da filhinha. Não desgrudava o olho um minuto.

O sol brilhava, era uma daquelas tardes quentes de verão. Um banho de piscina - tudo o que Ana Luíza queria

Colocou o biquíni, olhou-se  no espelho 'tenho de me esforçar mais na academia... essa barriguinha!', pensou... 'vou forçar mais daqui pra frente'.

Foi ao quarto em que havia deixado Aninha dormindo, sossegadamente. Olhou para o filhinha - tão linda. 'Amanhã ela fará seu primeiro teste para modelo fotográfico', pensou... orgulhosa da beleza da filha.

Foi para a piscina, mergulhou... nadou, nadou, nadou. Inconsciente de tudo ao seu redor, apenas sentia-se deslizar na água fresquinha.

Passou por mim, não me viu sentada à beira da piscina. Por que as pessoas não prestam mais atenção?

Depois de uns trinta minutos saiu da piscina. Estava exausta... deitou na cadeira e adormeceu...

Aninha acordou...

Ana Luíza abriu os olhos assustada... lembrou-se da filha... num salto estava no quarto. Aninha não estava lá...

As pessoas são realmente distraídas... Se Ana Luíza tivesse olhado para a piscina não precisaria ter corrido até o quarto...

Eu havia acabado de passar por aí...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Hoje Carlos decidiu que mudaria sua vida. Estava cansado de não ter dinheiro pra nada... queria tudo, não tinha nada.

Hoje sua vida mudaria... há dias vinha rondando as lindas mansões de Jurerê... Jurerê Internacional... 'até o nome é pomposo', pensava ele... 'por que alguns têm muito e outros têm nada?'

Ninguém disse que a vida é justa... será que ele não sabe disso?

Estava revoltado. E nada melhor do que uma revolta pras coisas mudarem... as guerras... todas... começam assim: uma pequena revolta, que cresce, cresce, cresce... e aí eu entro em ação.

Na guerra... em qualquer uma delas, eu trabalho mais que dobrado. Não estou me queixando, não. Se não estivesse satisfeita com meu trabalho mudaria de profissão. Não sou do tipo que se acomoda... se não gosto, largo mão.

Não... não é o que você está pensando... não é que eu goste do que faço, apenas não desgosto... é isso.

E Carlos decidiu. Esperou escurecer, pulou o muro... 'droga, cortei a mão', disse de si para si.

Ah! Ele tinha essa mania de falar consigo mesmo. Dizia ser um bom falante e um bom ouvinte... tinha grandes ideias e gostava de ouvi-las ao som de sua própria voz.

Correu agachado pelo gramado... parou. Silêncio total. 'Agora é só escalar esta parede e pular na sacada', falou de novo pra si próprio.

Não foi fácil, ele não tinha tanta habilidade... e eu só olhando. Até pensei em dar um empurrãozinho pra facilitar... me aproximei de mansinho.

E foi escalando... um pé aqui, outro ali, na parede, na grade da janela do térreo. 'Um impulso e chego lá', falou todo feliz com sua façanha. E um... e dois... e três... impulsionou o corpo para cima. As mãos quase... eu disse: quase conseguiram agarrar a beirada da sacada.

O que é um 'quase'... ele se desequilibrou, caiu e... bem, quebrou o pescoço...

Tenho de parar com essa minha mania de querer dar uma forcinha....